O INCONSCIENTE: ALGUMAS PALAVRAS
- freudcontemporaneo
- 7 de dez. de 2016
- 3 min de leitura

“Se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta freudiana, essa palavra seria incontestavelmente inconsciente”
Freud.
A afirmativa freudiana acima pode ser traduzida como a pedra angular da psicanálise. O inconsciente, de fato, constitui-se como o elemento fundamental da descoberta freudiana. A partir do atendimento de seus pacientes, Freud verificou que há processos psíquicos inconscientes, ou seja, o que sabemos de nós é a menor parte do que somos. Por esse caminho, o termo inconsciente foi utilizado para designar o conjunto de conteúdos não presentes no campo efetivo da consciência. Se a psicologia, em linhas gerais, lida com os processos psíquicos presentes na vida consciente, a psicanálise demonstrou que o psiquismo não é redutível à consciência e, no dizer freudiano, a vida psíquica é “Cheia de pensamentos eficientes embora inconscientes, e que são destes é que emanam os sintomas”. Nesse sentido, não existe diferença entre os conteúdos da vida psíquica inacessíveis à consciência do lugar no qual tais conteúdos se encontram.
Podemos dizer, resumidamente, que o inconsciente é constituído por elementos que foram extraídos da consciência, ou seja, elementos recalcados. Estes elementos, por serem intoleráveis, insuportáveis, por causarem algum tipo de mal-estar ao sujeito, são retirados do campo da consciência e enviados para o inconsciente. É aí que reside toda a questão: o fato desses elementos terem sido retirados da consciência não implica que eles tenham sido eliminados da vida psíquica; volta e meia eles retornam em forma de sintomas, de lapsos de linguagem ou de memória, sonhos, dentre outras formas de manifestação. Todavia, alerta-nos Freud, o retorno desses elementos se dá de maneira transformada, modificada ou alterada. De modo mais específico acerca dessas transformações do que foi retirado da consciência e lançado no inconsciente, o psicanalista vienense vai dizer o seguinte:
“1) esses pensamentos passaram por transformações, disfarces e deformações que dão agora uma expressão e uma forma à cota com a qual o aliado inconsciente participa desses pensamentos;
2) esses pensamentos ocuparam a consciência num momento em que não deveriam tê-lo feito;
3) uma parte do inconsciente, que sob outras circunstâncias não o faria, emergiu na consciência. ”
Portanto, ao se cumprimentar a viúva desejando-lhe “parabéns” no lugar de “meus pêsames” pode ser um lapso de linguagem que aponta para uma condição inconsciente. É devido a isso que Freud vai dizer que o inconsciente é muito mais que uma característica, mas, acima de tudo, “é um sinal, uma marca reveladora de que tal processo compartilha a mesma natureza de certa categoria psíquica, que sabemos possuir ainda outras importantes características, bem como de que ele pertence a um sistema de atividade psíquica de suma relevância e merecedor de toda a nossa atenção”.
Por outro lado, embora não seja o foco de nossas discussões neste momento, o psicanalista francês Jacques Lacan vai dizer que são nessas lacunas que aparecem em forma de atos falhos, lapsos, sonhos, trocadilhos, dentre outros, e que fazem parte de nossa “psicopatologia cotidiana”, é que o inconsciente se “materializa”. É como se o sujeito que se julga “senhor em sua própria morada”, dono de si, fosse atropelado por um outro sujeito, relativamente estranho, aquele do inconsciente, que aparece de modo impositivo causando perplexidade (algo do tipo: Isso foi comigo?).
De acordo com Lacan, é esse “sentimento” de perplexidade que funcionará como indicativo de um outro sujeito que “parasita” o sujeito da consciência, a quem damos o nome de Inconsciente. Finalmente, com Lacan, podemos dizer que “o inconsciente é o capítulo de minha história que é marcado por um branco ou ocupado por uma mentira: é o capítulo censurado. Mas a verdade pode ser resgatada; na maioria das vezes, já está escrita em outro lugar”
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